DBike - Revista catarinense de cicilismo | Santa Catarina, 24 de julho de 2024 | Quem somos | Contato

O ‘Brasil que pedala’ sobre duas rodas inclui Pomerode

Foto Prefeitura de Pomerode

Um retrato sobre as pequenas cidades do país onde a cultura e o uso da bicicleta ainda se mantêm forte e resiliente é o mosaico de narrativas que compõem “O Brasil que pedala”. Com interesse em descobrir as motivações e curiosidades do cotidiano dos ciclistas dessas cidades, uma equipe de pesquisadores e autores vinculados a organizações civis que promovem a ciclomobilidade se debruçou sobre 11 cidades brasileiras de pequeno porte – com até 100 mil habitantes – para realizar entrevistas, contagens veiculares, pesquisa de perfil e caracterização de ciclistas, entre outros levantamentos para compor um mapeamento da mobilidade ativa nesses municípios.

Organizado por André Soares, da União de Ciclistas do Brasil, e Daniel Guth, da Aliança Bike, com prefácio de Clarisse Linke, do ITDP Brasil e apoio do Itaú Unibanco, o livro é a segunda produção da Parceria Editorial A Bicicleta no Brasil, composta pelas organizações Aliança Bike, Bicicleta para Todos, União de Ciclistas do Brasil e Bike Anjo. A parceria se formou para a produção de A Bicicleta no Brasil 2015, publicação que abordou a situação da mobilidade por bicicletas em dez capitais brasileiras.

Pomerode

As cidades foram escolhidas através de consulta na internet e têm em comum o porte – menos de 100 mil habitantes – e o expressivo uso da bicicleta por seus moradores. A obra contempla três cidades da região Norte do País e duas cidades de cada uma das demais regiões geográficas. Em Santa Catarina, a cidade de Pomerode foi a escolhida.

Para realizar os trabalhos de pesquisa, contagem de ciclistas, entrevistas, os organizadores do livro contaram com o trabalho de voluntários da ABC Ciclovias de Blumenau, AVIP Associação Visite Pomerode, além de estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da FURB. A Secretaria de Turismo de Pomerode prestou apoio nessa primeira etapa, assim como a colaboração da historiadora Roseli Zimmer foi da maior importância.

Para a equipe envolvida, os resultados da pesquisa de campo foram surpreendentes, mostrando vários dados interessantes de Pomerode, e que assim se destacou em relação às outras cidades.

Diversidade e perfil de ciclistas

Há diversos pontos curiosos apresentados em cada eixo do livro, que começa com um cordel dedicado especialmente para a publicação. J. Ribamar dos Santos, o autor, que também é ciclista, vive em Gurupi (TO), uma das cidades retratadas.

Um número expressivo de mulheres e crianças pedalam nestas cidades: em Ilha Solteira (SP), por exemplo, a presença feminina representa mais de 40% do total de ciclistas; já em Pomerode (SC) realiza-se anualmente a Copa Hans Fischer de ciclismo para homenagear seu grande herói esportivo, atleta que representou o país em duas edições dos Jogos Olímpicos.

Os resultados da pesquisa de perfil a partir das 2.208 entrevistas realizadas nas 11 cidades revelam o caráter inclusivo e humanitário da bicicleta. Praticamente dois terços dos ciclistas, nesta amostra de cidades pequenas, recebem entre zero e dois salários mínimos mensais. Em Mambaí (GO), 40% declaram não ter renda alguma.

Retratar a cultura da bicicleta em todos os biomas brasileiros e mostrar que ela se adapta a qualquer tipo de terreno e condições sociais também foi um desafio contemplado em O Brasil que pedala. Cidades como Tarauacá (AC) no meio da Floresta Amazônica com 73% de viagens feitas apenas de bicicleta, Tamandaré (PE), no litoral, e Cáceres (MT), no Pantanal matogrossense, estão mapeadas. Mambaí (GO), Antonina (PR), Pedro Leopoldo (MG) e São Fidélis (RJ) completam as 11 cidades pesquisadas.

As curtas e plenamente acessíveis distâncias são um ponto em comum entre as cidades. Para 63,6% dos entrevistados as viagens não superam 20 minutos de pedalada. Em Afuá (PA), 84% das viagens não superam 14 minutos e, em Tamandaré (PE), 51% não superam 15 minutos de pedalada.

A pesquisa revela ainda que mais de um terço (34,3%) dos ciclistas começou a pedalar porque a bicicleta “é mais rápida e prática”. Para 27,3%, o motivo principal é a economia deste meio de transporte. Para outros 22% dos ciclistas, o principal motivo é a saúde.

Sobre as águas

Afuá (PA) é a cidade que mais chama a atenção. Localizado na Ilha de Marajó, o município proíbe a circulação de automóveis, motos ou qualquer outro tipo de motor que faça andar sobre a terra. Trata-se de um lugar onde irmãos de 8 anos de idade levam irmãos menores na garupa da bicicleta e onde sinais e códigos de trânsito são negociados entre as pessoas. Afuá experimenta, na prática, tudo o que se estuda sobre os benefícios da bicicleta para as cidades.

Efeitos da motorização

Os números revelados nas pesquisas, no entanto, dão um gosto amargo no relato do cotidiano dessas cidades. Fica claro o efeito pernicioso de políticas públicas, que há décadas estimulam o aumento da presença de motores sobre duas ou quatro rodas nas ruas desses municípios – seja por meio de desoneração, linhas de crédito, subsídios aos combustíveis e obras viárias. O Brasil que pedala chama a atenção para o aumento de motocicletas e motonetas: do total de emplacamentos destes veículos feitos entre 2001 e 2014, mais de 70% deles foram em municípios de pequeno porte. As regiões Norte e Nordeste viram a frota de motocicletas crescer 641% e 639%, respectivamente nesse período. O livro é um alerta, mas também uma homenagem à cultura da bicicleta, que segue resiliente país afora.

Foto Reprodução

O BRASIL QUE PEDALA

A cultura da bicicleta nas cidades pequenas

Organizadores: André Soares e

Daniel Guth

ISBN: 9788556621634

Idioma: Português

Encadernação: Brochura

Formato: 15,5 x 23 x 1,6 cm

Páginas: 256

Edição: 1ª

Editora: Jaguatirica

Lançamento: Janeiro/2019

Preço: R$ 45,00

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