DBike - Revista catarinense de cicilismo | Santa Catarina, 24 de julho de 2024 | Quem somos | Contato

As “tribos” dos pedais

Eles e elas surgem de todos os cantos e vão se juntando como em uma tribo. As vestimentas e os equipamentos dão um colorido especial ao tradicional ponto de encontro da galera em Balneário Camboriú: a praça Almirante Tamandaré, na região central. As bicicletas vão sendo encostadas em tudo que não se move na praça: bancos, postes, paraciclos, muretas e etc. Outros preferem não se desgrudar da “magrela”. Alguns ciclistas nem se conhecem, receberam o convite do amigo que é integrante do grupo, mas rapidamente estão enturmados e o assunto não é outro senão ciclismo.

O ritual se repete praticamente todos os dias, faça frio ou calor. Nos finais de semana, o movimento de ciclistas na ciclofaixa da orla da Avenida Atlântica é ainda mais intenso, mas os grupos de pedais se destacam pela organização e padronização das camisas. Cada grupo tem o seu dia de pedal. O trajeto muitas vezes é decidido ali, na hora, num consenso que muitas vezes assusta os menos experientes. “Tem muita subida”, questiona uma ciclista de “primeira viagem”. Outros grupos, porém, anunciam no aplicativo WhatsApp o percurso e o nível de dificuldade do pedal: tartaruga ou porco solto, para ficarmos na linguagem usada por eles  para definir quando o pedal é para iniciantes ou avançados. Uma foto oficial antes do início da pedalada faz parte do ritual. Depois, disso todos partem em fila.

Cada grupo tem o seu líder, que “puxa” a turma e dá o ritmo ao pedal. Quem participa dos passeios regularmente conhece a regra número 1: ninguém pode ficar para trás. Se um ciclista não consegue acompanhar o grupo tem sempre outro para acompanhá-lo. As paradas para hidratação são obrigatórias. Um pneu furado e todos param em solidariedade ao colega de pedal.

Há roteiros para todos os gostos e níveis. Para quem está no nível intermediário, o Roteiro do Jacaré, pelo interior de Camboriú, é uma excelente dica. São cerca de 40km, sendo 95% em estrada de chão e poucas subidas. Já o Roteiro do Caetés começa com um “assustador” morro de cerca de 700 metros de extensão em acentuada aclividade. Empurrar a bike, neste caso, não é nenhum demérito, embora a maioria dos ciclistas não goste de descer da “magrela” para empurrá-la em hipótese alguma.

Para um pedal mas leve e contemplativo, a dica é seguir na direção de Itajaí. O roteiro passa pelas praias Dos Amores, Brava, Canto do Morcego, Cabeçudas e Atalaia, estas duas últimas já em território itajaiense. O visual durante o trajeto, de cerca de 15km, é simplesmente deslumbrante. Quem quiser ir um pouco mais adiante, atravessa o Rio Itajaí-Açu de balsa e segue até o Parque Beto Carrero World, acrescentando outros 15km ao percurso pelas orlas de Navegantes e Penha. Há outras trilhas também bastante acessadas pelos aventureiros do pedal, como a do Morro do Encano, que abrange três cidades: Balneário Camboriú, Camboriú  e Itapema – o topo do morro é exatamente a divisa entre Camboriú e Itapema. O retorno é quase sempre pela BR-101. Agora, se você é um “apaixonado” por morros, a melhor opção é encarar os 14 quilômetros de subidas e descidas da Rodovia Interpraias, que une seis praias agrestes de Balneário Camboriú. O visual compensa o esforço físico que é preciso dispender em alguns momentos do roteiro.

Oficialmente, a única trilha de cicloturismo da região litorânea de Santa Catarina é a da Costa Verde & Mar, com cerca de 270km de extensão. Trata-se do primeiro roteiro oficial de cicloturismo no Brasil. Ele começa na cidade de Bombinhas e termina em Luiz Alves, no Foz do Rio Itajaí-Açu. O roteiro é dividido em sete etapas.

Grupos de Bike

O Grupo 7:37 & Beer Bikers, de Balneário Camboriú

Somente em Balneário Camboriú e Camboriú calcula-se que existam mais de 20 grupos de ciclistas que se reúnem regularmente para explorar ruas, rodovias, morros, trilhas e estradas empoeiradas do interior de Balneário Camboriú, Itajaí, Itapema e principalmente Camboriú, esta última destino preferido dos ciclistas mais experientes. Os nomes dos grupos são os mais diversos: Bike Atitude, Pá Pum, Canela Suja, Riders, Pedalli, Brava´s Biker. MBS, Demarchi, 7:37 & Beer Bikers entre outros. Embora não exista separação de gênero, as meninas criaram o seu próprio grupo em Balneário Camboriú, o Elas no Pedal. Uma vez por mês elas se reúnem para pedalar distâncias curtas e médias preferencialmente em área urbana. O grupo não é fechado para mulheres, conforme explica Sandra Bazan, a líder do Elas no Pedal. “Não discriminamos, homens também são bem-vindos aos nossos pedais”. O objetivo, afirma a coordenadora, é incentivar as mulheres a utilizarem a bicicleta como instrumento de transporte, esporte e lazer. O grupo hoje é formado por 70 mulheres, porém, em média, 20 participam dos pedais que acontecem sempre na última quarta-feira do mês, com apoio da Diretoria de Trânsito de Balneário Camboriú. Os grupos também se organizam para participar de pedais em outras regiões do estado e até de competições de regularidade na região. Passeios a Nova Trento, a terra da Santa Madre Paulina, também são comuns, assim como a Porto Belo, Bombinhas, Governador Celso Ramos, Barra Velha e São Francisco do Sul.

Praticamente não existem profissionais do ciclismo nos grupos. São pessoas de vários níveis e formação, desde professores, advogados, médicos, engenheiros, comerciantes, dentistas até grandes empresários. A idade também varia muito. Há nos grupos desde gente com menos de 20 anos até senhores e senhoras com mais de 70. Todos eles têm um objetivo comum: praticar o ciclismo regularmente como forma de manter o corpo e mente em atividade física, ao mesmo tempo em que se insere num grupo buscando a socialização. Valmor de Borba, um dos fundadores do Brava’s Biker, admite que criou o grupo porque não conseguia acompanhar os ciclistas do MBS, que pedala às quintas-feiras. “Num desses pedais eu, o Moacir e o Maurício, sentados lá numa mesa do posto de base da Petrobras, em Itajaí, depois de desistir de acompanhar o grupo, resolvemos montar um outro grupinho de pedal nas quintas-feiras. Nesta época, também pedalávamos com o Grupo Demarchi e convidamos alguns para também participar do nosso grupo”, recorda Valmor que desde 2014 adotou o ciclismo como o seu esporte número 1. O Brava’s Biker tomou corpo e hoje conta com cerca de 60 participantes no grupo whatsApp. Neste ano, Valmor e outros cinco integrantes do grupo decidiram formar uma diretoria, que eles preferem chamá-la de GG6 (Grupo Gestor 6). A camisa oficial do grupo foi confeccionada e até Normas de Conduta foram estabelecidas. “O grupo cresceu muito, foi preciso definir algumas regras para manter a boa convivência”, justifica Valmor. E uma das regras, informa ele, é a frequência nos pedais. “O ciclista que quer participar do nosso grupo precisa ter assiduidade nos pedais de quinta-feira e nos alternativos, que promovemos em distâncias mais longas nos finais de semana e feriados”, revela.

Na parte II desta matéria: as ciclovias e a participação do poder público no incentivo ao ciclismo na região.

Na subida tem sempre um colega para auxiliar
O Grupo Pá Pum é um dos mais antigos de Balneário Camboriú
O Grupo Brava’s Biker foi formado em 2017
O Elas no Pedal não é exclusivo para mulheres

 

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